quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Verdades de inverdades do financiamento público de campanhas

Jurista mostra o que está por trás da Reforma Política brasileira

Por Aline Riccioppo


A proposta de reforma política que está no Congresso Nacional surgiu primeiramente em 2001 com o Projeto de Lei 5261 que foi reformulado, apensado com um outro Projeto de Lei em 2003, que é o atual objeto de estudo da comissão de reforma política, o PL 2679. Esse PL recebe o substitutivo do relator, o deputado Rubens Otoni do Partido dos Trabalhadores goiano, e é o que está sendo discutido agora.

Esse Projeto contém algumas mudanças no sistema político que rege a estrutura de organização do Estado brasileiro. Ele vai, por exemplo, instituir o financiamento público de campanha e a votação em lista fechada, além de tratar de fidelidade partidária e da polêmica cláusula de barreira.

A idéia do financiamento público de campanha é coibir a existência do caixa dois, o grande mote da reforma política causado pelo escândalo do mensalão. A reforma política apareceu como a grande solução para os problemas nacionais.

Na opinião de Dimitri Sales, Assessor Jurídico da Secretaria de Participação e Parceria da Prefeitura de São Paulo e Mestre em Democracia brasileira o grande erro de toda a reforma é exatamente encará-la como solução para os problemas políticos brasileiros. Ele diz que a partir da existência de um ordenamento jurídico, de um sistema criminal colocado em prática e aplicado efetivamente, seria possível combater a corrupção sem a necessidade de uma reforma, que deveria por sinal ser encarada como uma reforma eleitoral e não política.

Pelo sistema atual, uma campanha política é hoje financiada privadamente pelos sócios dos partidos, com o financiamento público, a verba viria do Estado e qualquer outro tipo de investimento ficaria proibido. Os valores de cada campanha seriam estabelecidos multiplicando o número de eleitores de cada região pelo valor de sete reais. Do montante obtido 1% seria dividido igualmente entre todos os partidos, 14% direcionado aos partidos com representação na Câmara dos Deputados e os 85% restantes distribuídos proporcionalmente ao número de eleitos na eleição anterior.

Sales explica a princípio que as campanhas não teriam o mesmo nível que tem hoje, além de que, evidentemente os maiores montantes permaneceriam nas mãos dos grandes partidos, interferindo na democratização do processo eleitoral.

Por outro lado, através do atual horário eleitoral gratuito, por um sistema camuflado, o Estado já financia a campanha e este seria portanto um dos argumentos favoráveis do ponto em questão, sobre o qual o jurista se coloca completamente contrário. Isso porque garantir princípios constitucionais como liberdade de expressão, publicidade e pluralismo político é dever do Estado e não uma ordem benéfica como faz-se parecer.

Outro argumento deste item da reforma é o maior controle sobre os gastos com a campanha, que poderia ser efetuado mesmo com o financiamento privado, dependendo unicamente de um órgão de fiscalização competente. Nas eleições passadas a proposta era a prestação de contas dos partidos fosse colocado diariamente na Internet. A chamada mini reforma, não passou na votação. Isso porque, na opinião do jurista o Congresso Nacional não está interessado em tornar públicos seus dados e ter um controle efetivo sobre as campanhas partidárias, e completa: “é preciso pautar o discurso do debate onde ele acontece, então não venha me dizer que ia ser mais fácil prestar contas. Se a gente consegue camuflar uma prestação de contas coletiva, individualmente isso também vai ser possível”.

Na verdade o que é necessário não é toda uma campanha ao redor de uma chamada reforma política, e sim a efetivação de um sistema penal que consiga coibir práticas ilícitas nas eleições. O financiamento público de campanha da reforma prevê também a diminuição da influência poder econômico sobre os candidatos eleitos. Neste ponto Sales afirma que nunca, numa instituição onde aja estabilidade política o poder político andaria dissociado do poder econômico. Isso evidentemente não é favorável à política democrática do país, mas não deixa de ter sua importância. Necessita, entretanto, de uma regulamentação e não de uma negação de sua existência.

O Brasil padece de uma má distribuição de recursos e, com o financiamento público deixaríamos de investir em projetos sociais ao eleitorado brasileiro. Eleitorado esse que não tem abertura alguma para uma participação popular a fim de discutir o atual sistema político do país.

Esta reforma não tem por objetivo real avançar na democracia e coibir a corrupção como procura mostrar. Esta reforma, que provavelmente entrará em vigor no segundo semestre deste ano, deverá de fato e fortalecer os grandes partidos políticos, centralizar ainda mais o poder e afastar de maneira cada vez mais sutil a participação popular nas decisões do Estado, forma como, aliás, vem sendo implantada.
junho/2007

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Globalização Imaginada

Aline Riccioppo

2007

Quando falamos das relações interculturalidade entre a América Latina, a Europa e os Estados Unidos devemos levar em conta os acordos verificados nas décadas de 80 e 90 além das colonizações e migrações de cada uma dessas regiões. Os filhos e netos das sociedades latino americanas de hoje são formados pelas migrações européias que foram causadas pelas ditaduras militares de 70 e 80, pelo empobrecimento econômico e pelo desemprego.

Entre as migrações latinas e européias encontra-se os Estados Unidos, e os países latinos, que realizaram tratados de livre comércio nos anos 90, esforçam-se para não tornar suas relações econômica exclusivas dos norte americanos.

As interações entre essas regiões serão analisadas em suas estruturas, a partir do sentido sociocultural das migrações, das concepções do mercado e da interculturalidade, das identidades na globalização e das políticas culturais.

Migrações de ontem e de hoje

As migrações do século XX fizeram do nomadismo um hábito entre os povos, e fica necessário destacar o que cada sistema migratório representou para a formação cultural das regiões. Como por exemplo o sonho americano dos europeus se consolidou no American Dream e o que acontece quando altera-se o referencial cultural de um país ou de uma região?
Atualmente destacam-se três sistemas migratórios no mundo todo: a migração de instalação definitiva ou de povoação, a migração temporária por motivo de trabalho e a migração de instalação, variável entre as duas anteriores, destacando-se ultimamente as de caráter provisório, com vistos de curta duração relativos a política de cada país. Os países mais procurados costumam conceder nacionalidade a um número restrito de estrangeiros, além de afetarem seus direitos tornando mais complicadas as interações sejam elas de caráter cultural ou empregatícias. Essas tendências variam conforme o país destino e a qualificação dos imigrantes; evidentemente que essas relações variam conforme a posição social dessas pessoas.
Apesar das dificuldades encontradas, por outro lado, mediante os avanços comunicacionais do mundo globalizado fica ai facilitada a comunicação posterior entre o migrante e seu país de origem. Jornais do mundo todo podem ser facilmente acessados em qualquer parte do planeta, não causando assim movimentos isolados.

Para notar a diferença entre as migrações do passado e as atuais vale destacar a mudança no sentido das viagens observado na segunda metade do século XX. Os espanhóis por exemplo migraram em maior quantidade para outros países da Europa do que para a América Latina, enquanto que estes últimos preferiram procurar por regiões da Europa.

Ao longo de toda a história, as relações entre América Latina e Europa não detiveram-se a processos interculturais, mas também de caráter mercantil. O intercâmbio com os Estados Unidos principalmente levou sempre em conta um caráter econômico como a valorização dos capitais norte americano e também do trabalho.

A transformação dos vínculos entre a América do Norte e a Europa criou uma certa polaridade entre as regiões e também alguns estereótipos, além de um certo preconceito aos latino-americanos que tem as emigrações dificultadas, diferentemente do que se observava no passado quando os países da América Latina tinham “um imenso território a povoar” e uma gama desenvolvimentista pela frente.

Por outro lado, enquanto as migrações foram dificultadas, a passagem de informações está a cada dia mais simples e impulsionada, levando para qualquer parte do mundo, mercadorias, capitais e mensagens da mídia.

Evidente que os discursos sempre são diferentes das realidades observadas, entretanto a modernidade não se propõe em momento alguma tratar todos como iguais. A concorrência e a discriminação profissional prevalece fazendo da interculturalidade um processo democrático e subordinado ao mercado de oportunidades.

Conflito de narrativas sobre as identidades

Observamos neste ponto as conseqüências das colonizações em relação a interculturalidade atual e a forma como certos jornalistas e historiadores as encaram no processo cultural das regiões que rotulam a identidade como oposta à globalização. Um conceito errôneo a medida que a circulação dos produtos e das pessoas consistem num processo que não pode ser descartado, mediante todo seu histórico econômico, político e social.

Para o binarismo maniquísta as diferenças entre as classes sociais são tão antigas quanto a existência de uma sociedade humana, mesmo que não fosse observada. Assim como as relações Europa- América não podem ser reduzidas a uma polaridade já que a cultura é um processo híbrido e complexo relativo aos costumes diferentes de cada povo que fundem-se em um só, como comum a todos, num processo globalizado.

As divergências entre Norte e Sul só vão acabar quando encerrar-se o discurso de paz maquiada, que coexiste ao processo das relações comerciais, o chamado encontro intercultural.

Enquanto a Europa sempre observou usas relações com a América Latina como a colonização de uma região indígena e atrasada no desenvolvimento, nossa visão sempre foi de um fascínio pelo vínculo necessário ao desenvolvimento e a racionalização dos povos, onde cada lado escolhe o que lhe parecer mais conveniente formando um espaço bem estruturado de relações e de passagem de informações. Um é fundamental a existência e ao desenvolvimento do outro, embora em parcelas diferentes.

Entre latinos e norte americanos as relações também nunca foram de parcimônia e de discurso semelhante, mas o confronto entre eles sempre serviu para construir um relato de violência e dominação dos povos do norte baseados nos estereótipos característicos. Do lado sul americano as identidades divergentes foram sempre observadas pelo fascínio americano pelo capital e a espiritualidade latina.
As interações entre as culturas latinas e norte americanas causaram uma diferenciação ideológica imensa mas com objetivos comuns, onde a América latina está se “americanizando”. Um claro exemplo disso é o tratado de livre comércio e as discussões sobre a criação da ALCA.

No discurso oficial mantém-se a política da boa vizinhança sob o domínio norte americano, que coloca os Estados Unidos como um país invulnerável a qualquer tipo de ameaça, ignorando as identidades interculturais. Como se qualquer que fosse a narrativa dependesse ainda da aprovação ou não dos norte americanos.

O espaço cultural latino-americano e os circuitos transnacionais

A confrontação dos dados das experiências com o narrativa mostram o quanto o imaginário é capaz de alterar uma concepção histórica. A globalização e a concepções de identidade exigem um conhecimento maior, um estudo aprofundado sobre as características migratórias e as identidades culturais de cada região.

Na verdade as mudanças comerciais e midiáticas promovidas pela Europa, América Latina e Estados Unidos foram muito poucas. O que mudou de fato foi a relação entre o discurso e a prática, entre a história e o fato.

No entanto os investimentos nos países de “primeiro e de terceiro mundo” são reais, colaborando para a globalização e para um compreendimento real e global do processo histórico que compõe a interculturalidade. O fluxo de capitais e de informações leva ao questionamento do que chamamos de cultura própria, cuja resposta depende de uma caracterização da identidade cultural e das produções conjuntas.

Cada região tem sua complexidade cultural peculiar não podendo ser compreendida como um todo, mas a heterogeneidade de cada uma dessas regiões leva a criação de espaços comuns de livre diálogo levando a uma reconstrução da América Latina. Os intercâmbios tecnológicos, econômicos e migratórios estão alterando as relações socioeconômicas assim como suas narrativas.

A mídia pode ser observada como grande fator de interculturalidade quando expande suas transmissões, aumenta seu alcance comunicacional e promove a interação entre os continentes, assim como ocorre com a industrialização, que também contribui para a interligação entre os povos. A promoção da multiculturalidade das massas leva a criação de espaços comuns, espaços globais.





sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Verdades de inverdades do financiamento público de campanhas - maio 2007

Por Aline Riccioppo

A proposta de reforma política que está no Congresso Nacional surgiu primeiramente em 2001 com o Projeto de Lei 5261 que foi reformulado, apensado com um outro Projeto de Lei em 2003, que é o atual objeto de estudo da comissão de reforma política, o PL 2679. Esse PL recebe o substitutivo do relator, o deputado Rubens Otoni do Partido dos Trabalhadores goiano, e é o que está sendo discutido agora.

Esse Projeto contém algumas mudanças no sistema político que rege a estrutura de organização do Estado brasileiro. Ele vai, por exemplo, instituir o financiamento público de campanha e a votação em lista fechada, além de tratar de fidelidade partidária e da polêmica cláusula de barreira.

A idéia do financiamento público de campanha é coibir a existência do caixa dois, o grande mote da reforma política causado pelo escândalo do mensalão. A reforma política apareceu como a grande solução para os problemas nacionais,

Na opinião de Dimitri Sales, Assessor Jurídico da Secretaria de Participação e Parceria da Prefeitura de São Paulo e Mestre em Democracia brasileira o grande erro de toda a reforma é exatamente encará-la como solução para os problemas políticos brasileiros. Ele diz que a partir da existência de um ordenamento jurídico, de um sistema criminal colocado em prática e aplicado efetivamente, seria possível combater a corrupção sem a necessidade de uma reforma, que deveria por sinal ser encarada como uma reforma eleitoral e não política.

Pelo sistema atual, uma campanha política é hoje financiada privadamente pelos sócios dos partidos, com o financiamento público, a verba viria do Estado e qualquer outro tipo de investimento ficaria proibido. Os valores de cada campanha seriam estabelecidos multiplicando o número de eleitores de cada região pelo valor de sete reais. Do montante obtido 1% seria dividido igualmente entre todos os partidos, 14% direcionado aos partidos com representação na Câmara dos Deputados e os 85% restantes distribuídos proporcionalmente ao número de eleitos na eleição anterior.

Sales explica a princípio que as campanhas não teriam o mesmo nível que tem hoje, além de que, evidentemente os maiores montantes permaneceriam nas mãos dos grandes partidos, interferindo na democratização do processo eleitoral.

Por outro lado, através do atual horário eleitoral gratuito, por um sistema camuflado, o Estado já financia a campanha e este seria portanto um dos argumentos favoráveis do ponto em questão, sobre o qual o jurista se coloca completamente contrário. Isso porque garantir princípios constitucionais como liberdade de expressão, publicidade e pluralismo político é dever do Estado e não uma ordem benéfica como faz-se parecer.

Outro argumento deste item da reforma é o maior controle sobre os gastos com a campanha, que poderia ser efetuado mesmo com o financiamento privado, dependendo unicamente de um órgão de fiscalização competente. Nas eleições passadas a proposta era a prestação de contas dos partidos fosse colocado diariamente na Internet. A chamada mini reforma, não passou na votação. Isso porque, na opinião do jurista o Congresso Nacional não está interessado em tornar públicos seus dados e ter um controle efetivo sobre as campanhas partidárias, e completa: “é preciso pautar o discurso do debate onde ele acontece, então não venha me dizer que ia ser mais fácil prestar contas. Se a gente consegue camuflar uma prestação de contas coletiva, individualmente isso também vai ser possível”

Na verdade o que é necessário não é toda uma campanha ao redor de uma chamada reforma política, e sim a efetivação de um sistema penal que consiga coibir práticas ilícitas nas eleições.

O financiamento público de campanha da reforma prevê também a diminuição da influência poder econômico sobre os candidatos eleitos. Neste ponto Sales afirma que nunca, numa instituição onde aja estabilidade política o poder político andaria dissociado do poder econômico. Isso evidentemente não é favorável à política democrática do país, mas não deixa de ter sua importância. Necessita, entretanto, de uma regulamentação e não de uma negação de sua existência.

O Brasil padece de uma má distribuição de recursos e, com o financiamento público deixaríamos de investir em projetos sociais ao eleitorado brasileiro. Eleitorado esse que não tem abertura alguma para uma participação popular a fim de discutir o atual sistema político do país.

Esta reforma não tem por objetivo real avançar na democracia e coibir a corrupção como procura mostrar. Esta reforma, que provavelmente entrará em vigor no segundo semestre deste ano, deverá de fato e fortalecer os grandes partidos políticos, centralizar ainda mais o poder e afastar de maneira cada vez mais sutil a participação popular nas decisões do Estado, forma como, aliás, vem sendo implantada.

domingo, 23 de agosto de 2009

Comercial Energyse - abril 2005

Surge um novo Cenário Publicitário no Brasil

Por Aline Riccioppo

A cidade de São Paulo começa a ser valorizada como campo da publicidade, antes privilégio do Pelourinho, em Salvador, ou das praias cariocas

Uma equipe irlandesa, juntamente com a produtora brasileira Vide o Verso, gravou, entre os dias 30 de abril e 7 de maio, um comercial de energético que veiculará em toda a Europa. O cenário escolhido foi o patrimônio histórico do centro de São Paulo, o edifício Martinell. Construído em 1925, foi o primeiro aranha-céu da América Latina.

O evento movimentou o cotidiano do lugar. A produtora assinou um contrato com a Prefeitura, assumindo a responsabilidade caso houvesse qualquer tipo de dano ou alteração no prédio. Outro contrato estabelecido foi com o restaurante Requinte, para que todas as pessoas envolvidas na produção se alimentassem durante o longo período de gravação que começa antes das seis da manhã.

O comércio abriu excepcionalmente aos finais de semana durante as gravações. “As vendas aumentaram e o próprio café foi indicado como cenário para outros comerciais”, diz Marta Avoletta, gerente do Café Martinelli. O apoio do DETRAN (Departamento de Trânsito) foi fundamental. “Conseguimos uma permissão para estacionar os carros nas calçadas, em cima da faixa de pedestres e em filas duplas. O Brasil possui essa vantagem, pois no exterior isso não seria viável”, diz Rogério Silva, segurança da produtora brasileira.

Aqui, não existe mão-de-obra para a montagem de um cenário artificial. “São Paulo está entrando com tudo nesse meio, pois os prédios são cenários prontos”, diz Andress Castilho, produtor internacional do comercial. As vantagens do Brasil em relação ao resto do mundo são inúmeras. Segundo Eduardo Abromovay, produtor administrativo, a Europa, por exemplo, possui um clima muito frio para gravar certos comerciais e, países como a África do Sul, a Argentina e principalmente o Brasil, são favoritos nesse quesito.

O prédio praticamente parou para servir aos pedidos da produção. Walter Costa, administrador do Martinelli conta que o clima é terrível, “o movimento não parou em momento algum, os elevadores só serviam a produção”. Alguns andares do prédio foram utilizados para acomodações da produção como a sala de figurinos, a de maquiagem e a dos computadores.

Duzentos brasileiros, da agência Retrato Falado, foram empregados como figurantes, que durante o comercial se aglomeravam na porta do prédio, simulando uma fila. Dentre eles, estava Dennis Vereisky, o ator principal. Ele toma o energético (como nome comercial de Energise) e escala os 130 metros do prédio, que tem sua estrutura formada por blocos. As pessoas comemoram ao som de músicas nacionais e internacionais.

Uma produção desse tipo envolve direta e indiretamente mais de mil pessoas, alguns tendo nesses projetos um emprego fixo e, outros, que trabalham nisso como extra. “Na verdade eu sou documentarista, formado em jornalismo pela USP. Faço trabalhos como esse apenas para tirar um dinheiro a mais”, conta o produtor Paulo Reis, um dos contratados.

Muitos curiosos que passavam pelo local da gravação paravam para olhar o que estava acontecendo. Eduardo Abramovay diz que às vezes as pessoas acham que o trabalho de escalar um prédio é algo complicado, mas na verdade não é. “O esporte é perigoso, porém na filmagem tudo tem que ser perfeito, não há risco nenhum”, assegura. Em algumas cenas, a filmagem tinha que ser feita do alto de outro prédio, o que garante a segurança dos atores e a perfeição das cenas.

Uma filmagem longa e trabalhosa finalmente chega ao fim e Andress Castilho, produtor internacional conclui “Será raro o mês no qual não ocorrerá nenhuma produção estrangeira aqui. O cenário é perfeito, tudo pronto. Não há a necessidade da montagem, nos basta os prédios antigos ao fundo”.

Crítica para o filme Dirty Dancing - março de 2008

Ritmo para uma sociedade oprimida
Dirty Dancing – EUA- 1987


Aline Riccioppo



"Em 1963, Frances Houseman (Jennifer Grey), ou "Baby", como é chamada pela família, uma jovem de 17 anos, viajou com seus pais, Marjorie (Kelly Bishop) e Jake Houseman (Jerry Orbach) e sua irmã Lisa (Jane Brucker) para um resort em Catskills"




Francis Houseman, a chamada pelos familiares de Baby, é uma menina no início do filme, e é também o maior orgulho da família, que lhe deposita grandes expectativas.
Na verdade o orgulho que a família demonstra por Baby é facilmente quebrado quando a menina tem atitudes diferentes daquelas esperadas por seus pais.

"Em uma noite Baby ouve algo que parece ser um som de festa no alojamento dos funcionários (que os hospedes não podem ter acesso). Ela consegue entrar na festa graças a um empregado e descobre que ali o pessoal realmente se diverte com danças. Baby chega a dançar com Johnny Castle (Patrick Swayze), um professor de dança, e logo fica apaixonada por ele."

Quando Baby percebe que uma das funcionários do hotel (Penny, a parceira de dança de Johnny) está grávida e precisa de ajuda, ela busca uma forma de ajudá-los. Para ocupar o lugar da parceira de Johnny, Baby passa a ter aulas de dança e em pouco tempo se vê totalmente envolvida com o professor e agora parceiro.


No hotel em que ocorre a trama, alguns funcionários, como é o caso de Johnny, são proibidos de se envolverem com hóspedes, no entanto o dançarino também se envolve com Baby e eles passam a viver um romance às escondidas. Quando Baby percebe que Penny precisa novamente de ajuda, não mede as conseqüências ao chamar o pai, que é médico e pode ajudar a menina. Mesmo na presença do pai, Baby não hesita em permanecer do lado do parceiro e dos novos amigos.


Segundo as regras da sociedade e também do hotel, hóspedes e funcionários não se misturam, e aí está a grande discussão proposta pelo filme. Baby se sente atraída pelo universo exótico proposto pelas festas realizadas pelos funcionários, e mesmo contrariando os preceitos de sua família ela não só socializa com o “pessoal” (forma como os funcionários são chamados no filme), como também se envolve amigável e amorosamente.


Evidente que o pai da garota não fica satisfeito com o romance ali estabelecido, e fica indignado quando Baby enfrenta o dono do hotel que acusa Johnny de ter realizado pequenos furtos durante a temporada. Neste ponto Baby revela ao patrão que Johnny não era o ladrão procurado porque no momento do crime eles estavam juntos, e por isso Johnny é mandado embora.


Baby enfrenta a família reclamando que quando lhe ensinavam que tinha que ajudar a todos, estavam referindo-se aos seus iguais e que isso não é justo para a sociedade. A menina agora se transformou em uma mulher decidida e de pensamentos livres, capaz de enfrentar todos os que estão a sua volta, a sociedade em que foi inserida por sua classe social e inclusive sua família.


Francis Houseman é uma mulher forte, que está a frente de sua época, quando as mulheres serviam e obedeciam, sem ter sua voz própria. Dirtyng Dancing representa um passo à frente da sociedade machista da década de 60, e representa também força para todas as mulheres que o assistiram e ainda o assistem na atualidade.


Este filme tem todos os itens que para agradar mulheres de todas as idades; a força de uma jovem cheia de planos e sonhos, a garra para alcançar seus objetivos e uma bela história de amor como plano de fundo. Baby não só enfrenta todos por aquilo que acredita, como também passa a ser uma pessoa em quem os outros se inspiram. Johnny, que no início do filme a vê como a “filhinha do papai”, descobre em Francis Houseman a mulher que lhe dá força para também acreditar e lutar pelos seus sonhos e objetivos.


Além de tudo isso o filme ainda tem uma trilha sonora digna de Oscar- Dirty Dancing Ganhou o Oscar de Melhor Canção Original "(I've Had) The Time of My Life". E um galã do cinema pronto para ser lançado ao estrelato- este foi o primeiro filme de Patrick Swayze, que era dançarino profissional, o que o tornou perfeito para o papel.


Outros dançarinos profissionais consideram a cena de dança ao final uma das mais perfeitas desse tipo no cinema moderno.


O desenho que a coreografia faz no palco dá ao filme uma fotografia impecável e propõe a dança ao público, além de arrancar suspiros das mulheres que o vêem.


Com direção de Emile Ardolinoe produção de Linda Gottlieb este filme é aclamado pelas mulheres desde seu lançamento, o que demonstra lhe proporciona um valor atemporal.

Diretriz (Jornal Mackenzie) outubro/2006



Theatro São Pedro, de problemas à esplendores




Mesmo passando por diversas dificuldades, o Theatro São Pedro revive momentos de glória e sucesso.

Por Aline Riccioppo

O Theatro São Pedro, agora restaurado, possui um novo projeto chamado Quartas Musicais. Nele, músicos e atores se dispõem, às quartas-feiras, pelo saguão principal do teatro e se apresentam de portas abertas, possibilitando às pessoas com recursos limitados a apreciação da cultura brasileira. A entrada é franca. Voltando com toda a força, dia 29 de outubro o teatro estreou, com um enorme sucesso, uma ópera cômica chamada Pinafore. A trajetória do teatro é tão instigante que no ano 2000 foi lançado, pela Secretaria de Cultura, um livro em sua homenagem chamado Resistência e Preservação.



Inaugurado por Manoel Fernandes Lopes em 17 de janeiro de 1917, o Theatro São Pedro é o segundo mais antigo de São Paulo, perdendo apenas para o Municipal. Com nome de origem portuguesa, iniciou sua trajetória com peças de grande porte como A Moreninha de Joaquim Manoel Macedo e O Escravo de Lúcifer, da troupe D´Luxo e, algumas de suas peças até passaram pela repressão da ditadura. Inúmeras figuras consagradas até hoje no meio teatral estiveram no teatro, como Beatriz Segal, Procópio Ferreira, Fernanda Montenegro e Paulo Autran.



O lugar leva em sua jornada a época de transição entre teatro oficial à teatro experimental, reformando a linguagem teatral. Mas, sua história não é feita apenas de esplendores. Na década de 40, o teatro foi desativado, perdendo muitas de suas características marcantes como seu estilo neoclássico. Ficou 20 anos abandonado, servindo de depósito de pneus e estacionamento. “O teatro passou por uma situação muito difícil, a gente achava que ele não voltaria a ser o que era”, confessa Alberto Almeida, atual administrador. Passou por duas grandes reformas, uma em 1968 e outra em 1970. De grande importância para o desempenho do teatro, em 1973 foi sublocado à Secretaria de Estado da Cultura como sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. A partir de 1982 foi feito um projeto de tombamento do prédio comandado pelo secretário de cultura Marcos Mendonça, com o intuito de recuperá-lo. A restauração contou com o trabalho de cerca de 180 homens e o projeto foi entregue 90 dias antes do prazo. O objetivo era tentar, ao máximo, manter suas características do começo do século, porém com uma avançada tecnologia, que desse espaço tanto às pequenas apresentações quanto às grandes óperas. A reinauguração aconteceu em 1998.



A acústica do teatro é um fator que chama muito a atenção de quem o freqüenta. “A acústica é muito boa. Se tiver alguém conversando no fundo da platéia, quem estiver no palco ouve e vice-versa, os artistas adoram isso”, diz Alberto Almeida. O palco também ganhou uma infra-estrutura de primeiro mundo. Uma parte dele foi rebaixada, dando origem ao que chamam de “ala de serviço”, ou seja, lugar para os instrumentistas. Ela sobe e desce criando um efeito de movimento no palco, contudo sem interferir no andamento da apresentação. A platéia é o ambiente mais aconchegante do teatro, possuindo 800 lugares e um avançado sistema de luz, som e incêndio. Conta ainda com dois elevadores, facilitando a locomoção de deficientes físicos, e com um agradável café - bomboniere. Completando, de maneira merecedora, o contexto do lugar temos o Centro de Memória de Ópera do Theatro São Pedro e a Sala Dinorá de Carvalho. O Centro de Memória preserva trajes de época pertencentes a grandes óperas, balés e produções teatrais. A Sala Dinorá de Carvalho homenageia esta grande pianista e compositora, grande defensora e divulgadora da música nacional.



O órgão responsável pela manutenção do teatro é o APAA (Associação Paulista dos Amigos da Arte). “O APAA é ágil na manutenção, cuida de toda a parte técnica, de pintura e de pós restauração. É uma ajuda e tanto”, diz Alberto. Devolvido à população da cidade, o Theatro São Pedro é considerado hoje um monumento histórico, o qual vale a pena conferir.